Pular para o conteúdo principal

Expectativa, sua criada

         Você convive com ela, desde que se conhece por gente. Penetrante e manipuladora, a tal corrompe suas noites de sono sem pestanejar: basta um segundo de distração e já levou sua paz. Às vezes, você tenta não entrar no seu joguinho, se fazer de difícil, continuar cuidadoso e fingir esperteza. Ledo engano, my dear! Nesse momento, ela surge, triunfante, e anuncia ter tomado para si até sua alma. A denominação da cascavel? Expectativa, sua criada.
          Expectativa! Expectativa! Expectativa!! Expectativa, como deve ser do conhecimento de todos, vem do vocábulo espera. Eu espero, tu esperas, ele espera... esperamos pelo que, afinal? Por quem? Não se sabe ao certo, mas é fato que aguardamos, ansiosos, por algo que se perde no horizonte. Queremos essa coisa que insiste em escorrer pelas mãos, esse alguém, cujo endereço sumiu do mapa, essa manchete de jornal que não tem jeito de ser noticiada. Espera-se de maneira insana e doente. A expectativa está impregnada nas roupas, nos trechos de músicas, nos passeios desesperados de sábado, nos pesadelos súbitos, no soluço bandido a convulsionar a fala. É tortura sem fim.
         Você conheceu um cara interessantíssimo na locadora e espera que ele não seja casado; Você espera que aquela garota por quem se apaixonou não seja uma vadia graduada; Você espera que o presenteiem com educação e sinceridade do mesmo jeito que faz com os outros; Você espera que seu time não saia nas oitavas de final do campeonato para o maior rival; Você espera sol e bandeira verde naquele fim de semana no litoral. Que praga, hein? Expectativa é câncer desgraçado, cujo estágio terminal atende pelo nome de decepção – que é quando já nos encontramos agonizando, sufocados por nós na garganta, traídos pelas impressões mentirosas e sendo mastigados por dores existenciais terríveis. É muito difícil fugir desse saldo. Tô errada, agridoces?
         Claro, sobreviver é de praxe: ninguém morre de síndrome da expectativa frustrada com complicação no mediastino. Sempre fazemos pouco caso do estrago e logo já estamos serelepes, outra vez, nos agarrando a alguma nova ilusão para preencher os dias modorrentos. Porém, imagino que, mesmo com toda essa necessidade instintiva de (re)acreditar, o desafio maior seja o de tentar esperar pelo nada: um branco total no pensamento, sem martírios e cobranças. Aposto que, dessa maneira, as chances de lucro serão, além de maiores, muito mais reais. Só me digam qual o caminho para isso, por gentileza.


      

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

5 ANOS DE BLOG - PARTICIPE DA PROMOSHARE

Hoje, nós da empresa, completamos 5 anos de blog. Vamos dar o play para entrar no clima:                         #POLÊMICA: sempre preferi o parabéns da Angélica em vez de o da Xuxa. O que não quer dizer que eu ame a Angélica, claro, por mim ela pode ir pra casa do caralho. ENFIM, VAMOS CELEBRAR! 5 ANOS DE MERDA ININTERRUPTA AQUI! UHUL, HEIN? Era 22 de dezembro de 2010, estava euzinha encerrando mais um semestre da faculdade de Jornalismo, meio desgraçada da cabeça (sempre, né), entediadíssima no Orkut, quando finalmente tomei coragem e decidi dar a cara a tapa. Trouxe todas as minhas tralhas para o Blogspot e a esperança de mudar alguma coisa. Infindáveis crônicas começaram a ganhar o mundo e a me deixar mais desgraçada da cabeça ainda: sei lá, escrever é uma forma de ficar nua, de se deixar analisar, de ser sincero até a última gota, e isso nem sempre é bom negócio. Mas, enfim, felizmente tenho sobrevivido sem grandes traumas - mas não sem grandes catarses, por isso esse n

Família Felipe Neto

Eu já queria falar sobre isso há um bom tempo, e, enquanto não criar vergonha nessa cara e entrar num mestrado para matar minha curiosidade de por que caralhos as pessoas dão audiência para pessoas tão bizarras e nada a ver, a gente vai ter que escrever sobre isso aqui. Quando eu falo ''a gente'', me refiro a mim e às vozes que habitam minha cabeça, tá, queridos? Youtubers... youtubers... sim, Bruna, está acontecendo e faz tempo. Que desgraça essa gente! Ó, pai, por que me abandonaste? Quanto tempo eu dormi? Estamos vivendo uma era de espetacularização tão idiota, mas tão idiota que me faltam palavras, é sério, eu só consigo sentir - como diria o fatídico meme . Não tem a mínima condição de manter a sanidade mental, querendo estudar, trabalhar, evoluir quando pegar uma câmera, do celular mesmo, sair falando um monte de merda e enriquecer com isso ficou tão fácil. Vamos usar um case bem ridículo aqui? Vamos.  Dia desses, esta comunicóloga que vos fala, fazendo suas

Flores no lamaçal de creme de avelã

Tenho feito um severo exercício de autocrítica nos últimos tempos - exercício esse que, somado a um problema pessoal bem pontual, me deixou sem tesão algum de escrever. Mas voltei para uma transadinha rápida e certeira. Um mea culpa inspirado nos velhos tempos - desta vez sem o deboche costumeiro. Realmente quero me retratar. H á alguns meses, q uando escrevi, estupefata de indignações diversas, sobre youtubers, eu nunca estive tão certa do que escrevia. Sigo achando que o Youtube amplificou a voz dos imbecis e vem cooptando principalmente crianças a uma sintomática era da baboseira - entre trolladas épicas envolvendo mães e banheiras cheias de nutella , criou-se um nicho bizarro cujo terreno é a falta de discernimento infantil infelizmente. Só que foi aí que residiu meu erro: reduzir a plataforma a um lamaçal de creme de avelã - e nada mais. Não me ative ao fato de que ali coexistem muitos canais interessantíssimos sobre os mais diferentes ramos do conhecimento hum ano , inclusive