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Verborragia II - um apanhadão sobre hit parade, falta de saco, manual do flerte e Phil Collins

Às vezes, não é nem o caso de estar apaixonada pelo cara; é mais um exemplo daqueles pensamentos inconvenientes, hit parade da massa cinzenta, tipo “preciso passar no banco para encerrar minha conta” – que aparecem de hora em hora, por falta de algo mais interessante ou mais “pensável”. Na ausência de novidade consistente na vida, ele vai ficando, ficando e fixa raízes. Quando vê, a criatura ficou, grudou. E você lá gastando preciosos segundos de vida, pensando. Bem puta, bem raivosa, bem estafada, bem enojada do seu inexistente controle emocional, mas - ainda assim - pensando. Maldito gerúndio. Bem, maldito até que algo mais atrativo apareça, pois - não se enganem - sempre aparece. Enquanto houver feromônios, aparecerá. Como aparecem também as fases de escutar Phil Collins, balbuciando as letras na madrugada em um profundo estado de autopiedade e catarse. É bem verdade que nessas noites insones sempre rolam umas descobertas, naquele esquema “creio que realmente não me conheço’’, pois o susto ainda permanece entranhado. Então lá vai. Vou falar pausadamente para digerir junto com a plateia: eu não tenho saco para trovas. Eu. Não. Tenho. Saco. Metafórica e literalmente falando, claro. O fato é que eu não tenho saco para o exercício da trova amorosa, e isso me assusta, porque, oras, todo mundo tem saco para trovas na sociedade. Quem não gosta de ser trovado? Que tipo de alien soy yo? (aqui cabe um adendo: se você não é do sul, “trova’’ lê-se “flerte”, ok, forasteiro?) Eu penso que a trova é mentirosa, ainda que seja um eficiente catalizador de autoestima. O carinha que chegou elogiando meus textos, mas levou um forão agridoce e não disse mais nada sobre uma vírgula sequer que escrevi, não me deixa mentir. Depois da minha negativa, ficou evidente que ele pouco se fodeu para as minhas investidas literárias. Tudo começa com a trova, e é aí que reside minha desgraça, pois tendo o desprazer de me interessar por um forasteiro, só através dela talvez possa receber a atenção pela qual anseio. Será que existe flerte digno e incorruptível? Já diria o Nasi que o tal flerte é fatal, filhinhos. Fatal, fatalíssimo, e ainda tem um manual secreto, não? Compartilhado por meia dúzia de mortais cheias das artimanhas e donas de todo o charme existente na Terra – e que, não contentes, ainda formam uma sociedade secreta de como sensualizar sem perder a classe. Antigamente, eu levava super a sério essa lavagem cerebral que as revistas femininas vendem às discípulas, mas hoje eu só posso rir. Primeiro, porque já tentei seguir algumas instruções e me senti uma retardada mental - como se eu já não me sentisse assim sem ler os dez passos rumo à conquista do homem perfeito da página 45. E, segundo, porque eu realmente não sei flertar. Eu sou péssima em joguinhos, ohhh my god, eu não sei flertar. Eu demonstro interesse, quando quero dispensar. Eu dispenso sem querer, quando o que quero é pular no pescoço da criatura (aliás, aqui, cabe outro adendo: embora esteja super na moda, eu não sou vampira, ok). Eu sou um desastre romântico. E um desastre que escuta Phil Collins ainda, pobre de mim. Sabe, Martin Luther King Jr. tinha um sonho e eu tenho o meu: eu só queria que as coisas fossem mais espontâneas, como uma espécie de Código Morse do olhar que faria com que não gastássemos latim com flertes imbecis para aplacar a raposa da solidão. Eu só queria que, em vez de sair trovando adoidado, a gente já fosse se reconhecendo sem precisar dizer nada, entendem? Ah, e o sonoplasta até poderia tocar alguma do Phil, vai.  








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